O desrespeito à mulher é secular e mesmo nos dias atuais, em muitos lugares, elas ainda são consideradas propriedade dos homens.
Muitas das populações primitivas, semi-bárbaras e até mesmo totalmente selvagens, valorizam a condição virginal da mulher, chegando a exigi-la para o casamento, ou pelo menos a festejá-la quando encontrada.
Certos povos africanos tinham o costume bárbaro de costurar os lábios da vulva das virgens (infibulação) a fim de fechar o orifício da vagina até o matrimônio, momento de desfazer por incisão a ligadura ou acolamento dos tecidos. Esta era também a providência usada por beduínos da planície Bejuda, ao norte de Chartum. Fatos como esses aconteceram em múltiplas regiões da Rússia, Lituânia, Finlândia, Portugal e outros países antigos.
Entre os povos africanos da Núbia, Angola, África Ocidental e outros, o marido podia repudiar a esposa não virgem ou, nesse caso, receber uma espécie de indenização sob forma de haveres, principalmente gado (bois e vacas).
Por outro lado, também levados pela selvageria e ignorância, muitos povos tinham o costume de contratar estranhos para o defloramento de suas virgens que eram conhecidos como "perfuradores" experientes. Assim era entre os visayas ou bisayas, nas Filipinas e na Nova Caledônia. Eles consideravam que as mulheres não disvirginadas eram indesejáveis por algum motivo oculto, qualquer defeito ou má qualidade, que faziam com que não fossem desejadas por ninguém. Visava, pois, o desvirginamento pré-matrimonial ao preparo da esposa para poder dar ao marido. Outros povos interpretavam o defloramento das virgens como oferenda da sua condição aos deuses através de seus representantes, os sacerdotes ou feiticeiros. Assim procediam certos povos negros da Senegâmbia, os Acowaschen e Kumares na América, os índios na Nicarágua e também indianos e habitantes de Malabar.
No Camboja o defloramento era feito pelo sacerdote com o dedo mergulhado em vinho, com o qual, depois, praticava unção na fronte, seguindo-se a sua ingestão pelos pais e parentes da noiva. No Egito havia também este mesmo costume, mas o defloramento da noiva era praticado pelo marido e com o dedo envolto em lenço de musseline branco, seguindo-se a sua exibição aos pais e convidados. O mesmo aconteci na ilha de Samos, segundo testemunho de St"ubel e de Kramer em obras de 1896 e 1903 respectivamente.
A exposição de roupas ensanguentadas da noiva ou dos lençóis, após a primeira noite nupcial, como prova do defloramento pelo coito, dominou muitos povos primitivos até o século 16. Isso também era um costume recente na Itália.
Certas tribos índias do canadá: iroquezes, hurons, algonquins tinham um costume que consistia na obrigação do casal de jovens permanecer sem contato sexual durante um ano, ou mais, apesar de regularmente unidos pelo ritual do casamento. Já as raparigas do Tibete tinham ostensivo brio sexual e usavam no pescoço tantos colares quantos amantes tivessem tido, e isto para elas era motivo de muito orgulho.
São inúmeros os grupamentos humanos não civilizados, no passado ou no presente, estimando ou não a castidade pré-matrimonial das mulheres. Entretanto, nada ultrapassa a maravilhosa inventiva das "mil e uma noites" de Sheherazade e Shahrigar, o sultão que, para tem certeza de que não seria traído, mandava matar no dia seguinte toda aquela com a qual passasse a noite. Conta-se que Sheherazade, a bela filha do seu grão-vizir, a fim de escapar à morte, entreteve o sultão por mil e uma noites com suas atraentes histórias. Sabe-se hoje que se trata de lendas de origem persa e hindu.
Retrata a luxuosa vivência com as mulheres o ardoroso poema "Jardim Perfumado" que, à semelhança do kama-Sutra indiano, recomendava nada menos que vinte e cinco posições para o coito perfeito.
Em várias regiões arábicas era praxe que o marido realizasse o defloramento da esposa na noite nupcial enquanto convidados e parentes conversavam no quarto ao lado. Legislava também neste sentido o Alcorão, livro sagrado: "Quando possuirdes uma virgem, fazei reunir na câmara vizinha amigos..." Também era costume, após a noite de núpcias (geralmente em sete noites de ritual, levar a roupa ensanguentada da cama aos pais da moça, proclamando com orgulho e satisfação: "Que Alá purifique as vossas faces, de fato, mantiveram pura a vossa filha..." Caso, entretanto, a jovem não fosse presumida virgem, poderia o noivo repudia-la, ou pelo menos receber de volta a soma do seu pagamento feito à família.
No mundo árabe, geralmente por motivos religiosos, a vida das mulheres continua complicada. Não obstante dominados pelas delícias do convívio sexual, os homens arábicos jamais se libertaram do mau juízo que sempre fizeram das mulheres, atribuindo-lhes inclinação inata para a mentira, infidelidade, cupidez e astúcia.ç Felizmente temos sinais de que isso está mudando, embora lentamente. Muitos ainda adotam a reclusão rigorosa e sua permanente vigilância de suas parceiras. Reza neste sentido o Alcorão, a Bíblia islâmica onisciente, atribuindo aos próprios maridos a responsabilidade da escolha das esposas: "Mulheres honradas devem ser sempre obedientes, leais e reservadas". A condição essencial das moças árabes para o casamento ou separação por venda é a virgindade. A jovem desde cedo sabe que dever guardar seu "tesouro da castidade" e quando encontra seu pretendente proclama ameaçadoramente: "Sou virgem por Alá". Não escapou, entretanto, a sabedoria do Alcorão que, certas vezes, pode-se relevar a fraqueza de uma virgem inculta: "Se quiserdes perdoar a uma rapariga que vos enganou com uma falsa virgindade, eu o permito..." ou, mais especificamente ainda: "Se for uma mulher com a qual tiverdes contratado casamento, repudia-a imediatamente; mas, se for uma rapariga que vós tiverdes comprado à sua família, ou a um mercador, ou ainda adquirido na guerra, fechai-a sozinha nos seus aposentos durante o espaço de duas luas. Que ela não possa ver ninguém, nem comunicar-se com qualquer pessoa durante esse tempo. Perdoai-lhe em seguidanão voltando nunca mais a falar no assunto".
Quando o defloramento de filha solteira ou sua gravidez se tornava conhecido do pai, (no passado) poderia o fato levá-lo à morte; mais comumente nos nossos dias provoca sua exclusão de casa, seguida de inexorável vingança da família sobre o sedutor ou a um membro feminino de sua família. A violência não poupava ninguém. Basta pensar que poderia consistir em decepar-lhe as mãos.
Ainda hoje, donzelas árabes devem sempre conservar os olhos baixos na presença de homens. Proíbe o Alcorão que as mulheres exibam a sua beleza física, determinando que as vestes recubram todo o seu corpo, ou melhor. "tudo o que se acha acima dos joelhos e abaixo do umbigo..." Belos cabelos ou longas tranças constituem, para os pretendentes, os maiores atrativos das jovens, cujos rostos e bocas devem sempre permanecer ocultos por véus. O resultado disso é que, "a revelação de qualquer pequena parte do corpo torna-se repleta de significado erótico" inclusive as mãos, cujo simples contato, ao serem seguradas, têm expressivo significado sensual. Também a circuncisão masculina era obrigatória e recomendada no Alcorão antes do casamento. Em certas tribos de beduínos, como prova de bravura, os jovens praticavam o sacrifício de verdadeiro escorchamento da pele, abrangendo o ventre, a partir do umbigo, incluindo o escroto e faces internas das coxas. Atualmente este costume já não existe; foi proibido pelo governo da Arábia Saudita. Quando as mulheres, em certas tribos, praticava-se também a excisão do clitóris e grandes lábios vulvares, como se fazia no Egito, Núbia, Abissínia, em algumas áreas do Sudão e múltiplos agrupamentos selvagens africanos. Ainda hoje, em alguns lugares, esse horror continua acontecendo.
Tudo isso decorre da afirmativa de propriedade da mulher pelo homem, aliada à satisfação de sua vontade quanto a não ser comparada com antecessores no primado sexual de sua virgindade. Enquanto os ser humano permanecer ignorante, respeitando e praticando religiões com pregações absurdas, esses crimes contra as mulheres, em maior ou menor grau, continuarão acontecendo. Felizmente, muito dessa ignorância secular está sendo revista e abolida em várias partes do nosso pequeno mundo. Cada um de nós tem o dever de informar esses fatos absurdos, mas tão recentes, a todas as pessoas. Só assim poderemos vislumbrar a completa liberação das mulheres.
Nicéas Romeo Zanchett
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