Já vai longe o ideal educativo do resguardo da "pureza" e da "inocência" da criança diante daquilo que era maliciosamente tratado pelos pais como segredos da vida. A psicologia moderna considera como desejável um "acerto" de noções que ela deve ter sobre a sexualidade humana.
Antes de tudo é bom ficar bem claro que os pais devem sempre ter uma resposta pronta para quando o filho lhe fizer uma pergunta "embaraçosa". É preciso ter a consciência de que educar não é esconder a verdade, e os pais devem aprender para saber ensinar. Se sua resposta não for convincente, seu filho um dia irá buscá-la na rua, e certamente aprenderá de forma errada.
Para os pais, muitas vezes, torna-se difícil responder às perguntas da criança a respeito de assuntos com AIDS,estupro, violência sexual, sexo, nascimento, morte, etc. O mais importante é que não fiquem preocupados em dar respostas absolutamente certas, mas sim significativas. A criança que pergunta só quer tirar alguma dúvida, mas não está interessada em detalhes. O futuro das crianças de exige que elas sejam muito mais do que apenas seguras e ajustadas. É com diálogo sincero que se pode ajudar os filhos aprenderem o verdadeiro sentido da vida.
Muitos pais pensam que educação sexual é aquela "conversinha" que obrigatoriamente algum dia terá com o filho ou filha adolescente. Acham que o importante é alertar os meninos para os perigos das doenças sexualmente transmissíveis e as meninas sobre os riscos de uma gravidez indesejada. A verdadeira educação sexual começa muito mais cedo, na verdade, com as atitudes dos pais em relação a sua própria sexualidade. Qualquer que sejam os sentimentos em relação ao próprio corpo e ao do companheiro, podem ser percebidos pela criança. Uma simples conversa sobre reprodução de plantas ou animais; as conversas e atitudes com os amigos; a maneira como encaram suas trocas e relações, serão transmitidas naturalmente às crianças.
É preciso levar em conta que desde cedo existe uma forma de sexualidade em seu bebê, que pode ser no simples ato de amamentação. Embora diferente do adulto, o prazer que a criança está preparada para sentir em todo o seu corpo, desde o nascimento, é de natureza sexual.
Durante os primeiros meses de vida, é através da boca que a criança estabelece os seus contatos com o mundo. O seio da mãe não é somente sua fonte de alimentação, mas também de alegria e bem-estar.
Um garoto de três anos que observa a mãe enquanto toma banho ou banha a nova irmãzinha, presta atenção em todas as suas atitudes. Ele observa, também, que "naquele lugar" a irmãzinha não tem nada; fica logo imaginando que deve haver algum problema. Se ele fizer uma pergunta e a mãe silenciosamente ignorar, a dúvida ficará "martelando" na sua cabecinha. Este pode ser um ótimo momento para iniciar os esclarecimentos sobre a sexualidade humana. Ela tem direito de saber, por exemplo, o nome dos órgãos genitais de ambos os sexos. Uma criança nunca poderá vir a entender o mecanismo da reprodução se, de início, não lhe for possível nomear os órgãos que exercem esta função. É sempre importante escolher nomes que não sejam complicados e nem pejorativos. Ex: pipi, saquinho,a conchinha da irmãzinha, etc. Se a mãe tiver alguma dúvida sobre os nomes que costumam ser usados na sua região, procure saber como os filhos dos seus amigos os chamam.
Toda a criança tem necessidade de sentir-se amada, e esta carência precisa ser satisfeitas com amor, carinho e elogios. Caso isso não aconteça ela pensará que existe algo em si que não merece amor.
A educação sexual de toda a criança, também passa pela auto-exploração do próprio corpo. Para que seus órgãos sexuais não lhes sejam estranhos durante toda a vida, é preciso que ela toque neles. Se não o fizer, toda a sua evolução poderá ser prejudicada, pois o que não pode tocar ela também não poderá compreender. Se for deixada à vontade em suas investigações, o bebê, à medida que cresce, vai descobrindo no toque de seus órgãos sexuais, uma espécie de brinquedo agradável e tranquilizador. Esta fase,definida como onanismo ou auto-erotismo, voltará a surgir na adolescência, aí com características nitidamente genitais. Se os pais impedem ou castigam a criança que se auto-erotiza, ela passará a experimentar este prazer como algo proibido e às escondias. No entanto, é preciso observar que se a criança faz isso com muita frequência, pode ser porque está se sentindo negligenciada ou sem companhia.
O treino para higiene é uma das fazes mais difíceis, tanto para as crianças quanto para a mãe. Um treino errado dos hábitos higiênicos pode levar uma criança a pensar que tudo o que "fica lá embaixo" é ruim e não se deve fazer. A ideia de que o que é sujo é sempre mau e o que é limpo é sempre bom, pode levar a valorizações errôneas da própria pessoa ou de seus sentimentos. Se ela é forçada à higiene com grande rigor e castigos, pode comprometer sua capacidade de se expandir mais tarde. Muitas vezes a dificuldade de uma mulher para o orgasmo está relacionada com esta fase. Também podem vir a ser adultos sexualmente violentos ou inseguros. Esta é uma fase muito sensível da formação da consciência cerebral. Um passo importante no esclarecimento sexual é apontar a diferença entre os sexos. A principal curiosidade das crianças é saber por que o menino tem "pipi" e a menina não. A mãe pode simplesmente dizer que as meninas são diferentes, que tem apenas uma "conchinha" para fazer xixi e quando elas crescerem vão ter seios como os da mamãe, que servirão para alimentar seus filhinhos. Já os meninos quando crescerem serão homens fortes e amorosos para cuidar de toda a família.
A velha pergunta "de onde vem os bebês? deve sempre ser respondida com honestidade em qualquer idade. Um boa oportunidade é quando a mãe está esperando um novo bebê. Entretanto, muitas vezes a criança não nota as transformações físicas da gravidez; nesse caso a mãe poderá chamar sua atenção para o fato, a partir do momento em que o feto começar se mexer, dizendo, por exemplo, "mamãe está esperando um irmãozinho para você; ele sera seu amiguinho e juntos irão brincar muito" permitindo que a criança ponha a mão ou a cabeça em sua barriga para sentir os movimentos. A partir de então a criança terá sua curiosidade aguçada e irá fazer muitas perguntas que a mãe deverá estar preparada para responder. Mas isso se dará de forma lenta e a mãe terá oportunidade de "preparar a cabecinha da criança" para a chegada do novo bebê. Comece dizendo, por exemplo, "quando seu irmãozinho chegar você poderá ajudar a mamãe cuidar dele". Isso irá despertar amor e expectativa que a ajudarão responder às muitas perguntas. A criança precisa estar preparada para um farto que poderá transformar a sua vida. As perguntas são imprevisíveis e dependem da idade, desenvolvimento e sentimento dela. Uma dúvida muito comum entre elas é "por que só as mães podem ter bebês?". Procure dar res´postas simples e sem detalhes como, por exemplo: "as mães são diferentes e tem barriga que pode caber bebês", você também já esteve dentro da minha barriga e papai e eu ficamos esperando você nascer"; "os bebês são pequeninos e precisam ficar na barriga por algum tempo até crescer um pouco e ficarem mais fortes". Nesta fase da vida o interesse da criança abrange apenas "o que e como?". Mas, em qualquer idade é importante que a ideia das relações entre o sexos esteja sempre associada ao amor entre os parceiros. "É por se amarem que papai e mamãe dormem juntos e tem bebês".
Quando o desenvolvimento da criança está se processando normalmente, aos 3 anos já estará sabendo, por exemplo: a/que as crianças nascem da barriga da mãe; b/ que as meninas são diferentes dos meninos - elas parecem com as mães e eles com os pais; c/ que os meninos tem pênis e que às vezes fica ereto; d/que as meninas, quando forem adultas, também poderão ter bebês; e/ quer as meninas foram feitas para serem mamães, e que elas não tem pênis por serem diferentes, mas terão seios para amamentar seus filhinhos.
A criança que toma consciência de que um dia será adulto como os pais, tem grande curiosidade e quer vê-los, por exemplo, trocar de roupa, tomar banho, etc. É uma curiosidade inocente para saber como ela própria será quando for adulto. Esta relação, entretanto, vai depender, em grande parte, da atitude da família a respeito de algo que ainda embaraça, mesmo os pais mais esclarecidos. Muitos se confundem e não sabem como agir. Mas foi sua própria atitude, ao se ocultarem de algum modo quando trocavam roupa, que chamou sua atenção. Nesta fase a criança está muito atenta ás diferenças entre os sexos. Ficam imaginando que os pais devem fazer alguma coisa diferente que ainda não lhe contaram. A curiosidade fica mais aguçada com a insistência dos pais para que ela "saia do quarto" ou "não abra a porta do banheiro" quando eles estão sem roupa. A situação é sempre um pouco difícil. O pai não pode, de repente, ficar nu diante da filha de 4 anos. Se ele tivesse assumido uma atitude natural desde o início, por certo não ficaria nesta situação penosa. Entretanto, a criança tem direito de saber como são as mulheres e os homens adultos; de ter uma noção real do mundo, para poder se sentir bem nele: de saber que é parte importante das relações básicas da vida. Se isto lhe for negado só aumentará sua curiosidade e, tão logo tenha oportunidade, ela irá buscar essa informação de outra forma, muitas vezes perigosa.
Os pais que acostumaram seus filhos a vê-los sem roupa de vez em quando, terão sua função de educadores muito facilitada. Mas é importante que isto aconteça desde o primeiro ano de vida. Crianças que crescem assim, consideram a nudez dos pais como algo natural, obtém suas respostas e deixam de se preocupar com isso. Porém, esta naturalidade não deve ser forçada. Toda a criança é observadora e perspicaz, pois ela está descobrindo o mundo e as informações são importantes; ela sempre perceberá o constrangimento dos pais que apenas estão fazendo aquilo para atender seu pedido. Quando os filhos não foram preparados desde os primeiros dias, é melhor não atender de imediato os pedidos mais constrangedores como, por exemplo: (para vê-los sem roupa), mas deixar que em outra ocasião ela os veja naturalmente sem que tenha pedido.
Muitos pais têm o tabu da nudez arraigado, mas não colocam nenhum obstáculo a respeito de terem seus filhos dormindo com eles no mesmo o quarto, apesar de todas as sérias implicações que esta atitude pode ter. Os cuidados devem ser redobrados. A criança não tem condições psicológicas, nem mesmo quando é bebê, de enfrentar o impacto da visão de um ato sexual. Tudo tem seu tempo certo. Embora possa estar pronta para receber muitas informações que envolvam sexo, não está preparada para assuntos íntimos que só dizem respeito ao casal. Se de todo for impossível um quarto só para a criança, ela deverá ter sua cama separada - ao menos por um biombo - da cama dos seus pais.
Ao entrar para a escola é importante que a criança já tenha satisfeito toda a sua curiosidade inicial pelos pais, que serão que serão seus principais orientadores e fonte de informações diante dos muitos mistérios da vida e do mundo. A partir do início escolar, a natural evolução intelectual da criança se encarregará de fazer com que estes assuntos percam sua atual predominância. Entretanto, não se deve esperar quer ela vá desinteressar-se totalmente deles, pois toda a pergunta é parte de sua formação.
Quando o filho atinge a adolescência, a maioria dos pais costuma deixar a tarefa de educação para os professores que se dispõem a esclarecê-los. No entanto, não se deve esquecer de que a adolescência é o segundo estágio do aparecimento das naturais curiosidades da criança. Suas interrogações surgiram há muito tempo. Pode ter sido, por exemplo, quando aos 3 anos a menina viu o amiguinho fazer "pipi"; e se naquela época seus pais se furtaram a responder suas perguntas, pode estar certo de que ela buscou por outros meios satisfazer sua curiosidade. Agora, a um passo de se tornar adulto, a criança adolescente desinformada corre riscos muito maiores. ela irá buscar informações junto a seus colegas que naturalmente não são as pessoas mais indicadas para tal tarefa.
Por tudo isso, é importante que a educação sexual do seu filho comece no primeiro ano de vida.
Nicéas Romeo Zanchett
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