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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ADULTÉRIO - AMORES EXTRACONJUGAIS

 


          Antes dos seres humanos existirem já havia os deuses; e até esses mesmos deuses amavam, seduziam e praticavam o adultério, e isso em qualquer das mitologias conhecidas, da China como da Índia, egípcia ou babilônica, germânica ou do Peru. 
                No Olimpo grego reinava a alegria. Mas não para todos, pois a linda Vênus era casada com o coxo Vulcano, que passava o dia todo ocupado em seu prosaico ofício de ferreiro, tendo assim pouco tempo para dedicar-se à sua jovem esposa. Como permanecesse "insaciada", tal qual ainda hoje acontece com as esposas dos homens muito ocupados, procurou ela um substituto, tendo caído em adultério com Marte, o deus da guerra.  Desse fato foi informado o "corno" esposo que, como ainda hoje acontece com todos os maus maridos, em vez de tirar disso a lição exata e corrigir-se, voltou ao trabalho e fabricou uma fina rede metálica em que aprisionou o par amoroso em pleno ato sexual. A seguir chamou os deuses para que vissem com os próprios olhos o escândalo olímpico. Que fizeram os deuses gregos, tão sensatos? Eles não proferiram injúrias nem sacudiam o pó dos sapatos;  tampouco puxaram as espadas à moda da Idade Média, ou dos esposos de Tolstoi para desagravar "a honra ultrajada", mas fizeram o que de mais sensato se poderia fazer ante uma tal cena: desataram numa gargalhada homérica". 
                  Pouco importa que, como fenômeno sociológico, as relações sexuais extraconjugais sejam lamentadas e combatidas. O fato é que elas tem estado ininterruptamente em voga em todos os pontos da terra desde a mais remota antiguidade até esse momento; sempre ocupando lugar proeminente na vida espiritual dos homens, de modo que sempre devemos contar com elas como fato inevitável. 
                   Já na Bíblia a primeira mulher seduziu o primeiro homem e após o dilúvio, que contribuiu, todavia, para a formação de um mundo melhor, a primeira coisa que os sobreviventes fizeram foi entregar-se à volúpia. O primeiro rei bíblico, rico embora em virtudes viris e humanas, não hesitou em mandar matar o seu fiel general para apoderar-se de sua mulher. Temos também a perversidade de Salomé - a degenerada princesa edomita -  que, na última cena da Bíblia fez executar o piedoso profeta João para, num impulso sádico, poder beijar a cabeça decapitada, que lhe trouxeram em uma bandeja. 
                 A milenar Ilíada começa com o rapto de Helena, mulher casada, por um príncipe enamorado e a Odisseia com a despedida de Odisseu, também casado, dos braços de sua linda amante Calipso, e assim decorrem toda a literatura mundial, até os romances da atualidade, em parte realmente vividos, em parte apenas imaginários, como "Madame Bovary"   de Flaubert; "Nana" de Zola e "Ana Karerina" de Tolstoi. Cerca de 90% da literatura ocupa-se de amor e quase exclusivamente de amor e traições conjugais. Não é preciso lembrar que a literatura procura sempre refletir a realidade da vida, tal como ela é ou como os homens imaginam. Como não se trata aqui de ficção, mas apenas de ilustrar um problema, fico por aqui.
               Na França, em oposição ao espírito tolerante da nação, a liberdade de crenças religiosas foi anulada pelo Edito de Namtes simplesmente porque a amante do rei, querendo espiar com um ato "piedoso" os pecados de sua juventude, conseguiu triunfar de todas as resistências  da razão do Estado. A Inglaterra separou-se da Igreja Católica porque o Papa não consentiu o divórcio de Henrique VIII, que desejava casar-se com a sua amada Ana Bolena que já estava grávida. É bom lembrar, também, que a guerra mundial de 1914 foi desencadeada pelo atentado de Sarajevo contra o impopular herdeiro do trono austríaco. Esse assassínio não se teria consumado se, muitos anos antes, o príncipe herdeiro, então muito querido, não tivesse se unido à sua amada, mas "ilegítima" esposa. 
                 Goethe, o genial escritor, nos seus mais produtivos períodos de vida, sempre teve novas amantes: Werther (Carlota Buff), Viagens na Suíça (Lolly), Ifigênia (Senhora von Stein), Elegias romanas (Faustina), Divan (Mariana Von Wilemar), Elegia de Marienbader (Ulrica). Podemos também destacar Tristão na vida do compositor Wagner. O próprio Tolstoi teve uma vida cheia de devassidões e, na velhice, por um ataque de consciência, atacou com ira profética contra o amor extraconjugal, pregando a necessidade de continência, mesmo à custa da vida humana. O que a vida dos grandes homens nos fornece sob a forma de documentos e obras de arte é imensa, sabemos de milhões de indivíduos medíocres  sob a forma de acontecimentos prosaicos: cerca de 10% das crianças são ilegítimas como também, possivelmente, o mesmo percentual se aplica às crianças nascidas no primeiro ano dos matrimônios legítimos que foram geradas antes do casamento.
                 Os milhões de abortos, as centenas de milhares de contágios venéreos em bilhões de camisinhas consumidas anualmente, as multidões incontáveis de sacerdotisas de Vênus e das semi-prostitutas - tudo isso demonstra a enorme frequência das relações "ilegítimas".
                Quando digo que somos escravos de nossos hormônios não se trata de uma falácia, mas sim de um fato. Praticamente todo homem, em algum momento de sua vida, já teve ou ainda tem casos extra-conjugais; ocasionalmente ou repetidas vezes, com amigas, colegas de trabalho, prostitutas, amantes, ocasionais ou permanentes. O que aqui quero alertar é sobre a importância de tomar sérias medidas de precaução para nunca serem vítimas nem causa de danos e sofrimentos a seus parceiros oficiais. A própria história oficial de Cristo conta que quando ele disse "Quem de vós não tiver culpa alguma pode lançar a primeira pedra"... e como consequência, todos se retiraram de cabeça baixa. Na cena final da peça teatral "Fausto" de Goethe, quando Margarida, que definhava na prisão, devia ser levada ao cadafalso, o "Diabo" pronunciou a sentença implacável: "Ela está condenada". Mas, a "voz do Alto" corrigiu: "Ela está salva!"
                    Quem tiver de pronunciar-se sobre coisas sexuais deve ter sempre em mente esses dois exemplos e poderá escolher entre eles o que prefere seguir. 
                 Vivemos numa sociedade onde ainda não foi possível harmonizar os anseios eróticos naturais de cada um com os interesses da comunidade. É essa a causa originária de todos os conflitos da vida sexual, que longe de constituir um crime ou uma culpa, e, acima de tudo, geradora de infelicidade. 

Nicéas Romeo Zanchett